Embaixo do céu de Angola

Um diario, tentando expressar sensacoes, pensamentos. Sentimentos tentando ser traduzidos. Textos, vida, diário, poesia. Um pouco de mim.

Friday, February 16, 2007

 

Despedida de Angola – Pensamentos aleatórios



















Embarco dia 20 de Fevereiro.

1 Ano fora do Brasil, 6 meses de Angola. Fechamento de um ciclo.
Finalizações completadas, despedidas, saudades.
Uma mistura de tantas emoções e sentimentos, tantas derrotas, experiências e conquistas. Tanto de tudo. Tristeza, alegria, frustração, decepção, descobrimentos.
Como expressar isso tudo em linhas?

Um povo que mesmo diante da miséria e da guerra, não perdeu, não perde a esperança. A vida continua, os sonhos continuam. Talvez falte contestação, indignação por parte dos angolanos diante das disparidades e indiferenças que eles encaram todos os dias. Mas dizem: “É mesmo assim…”

Tantas coisas ainda a serem feitas e melhoradas, em um país que teve seu PIB em 2004 na ordem dos 23 bilhões de dólares!

Aprendi muito nesses 6 meses, muita paciência, lidar com adversidades (como controlar uma sala de aula com alunos que não puderam almoçar ou jantar por falta de água?), aceitação das diferenças culturais que para mim, brasileira, são um absurdo (como lidar com o conhecimento de que suas alunas casadas apanham dos maridos e acham isso normal? Ou que as suas alunas solteiras precisam arrumar “amigo” para lhes pagar as coisas que elas querem e não podem ter? Ou que seus alunos digam que uma mulher só é pouco e que 3 filhos só também é pouco? Ou ouvir de algumas mulheres e homens que deve-se ter 6 ou 7 filhos, pois se alguns morrerem ainda tem os outros?), lidar com a morte de uma forma natural (a morte está presente todos os dias em todas as famílias), lidar com doenças (também presente todos os dias). Como manter a cabeça fria nessas situações? Confesso que no começo sofri, chorei, para mim eram muito intensos os fatos, os novos conhecimentos. Muito “pensar criticamente” a condição das mulheres e as desigualdades de género, que aqui são absolutamente visíveis a quaisquer olhos de fora!

Importante foi a não comparação. Não há como comparar o Brasil, ou os Estados Unidos, ou a Argentina com Angola. Como? Angola passou por 27 anos de guerra civil! Acabou há apenas 4 anos, praticamente todas as infra-estruturas destruídas, a corrupção correndo solta, o dinheiro (muito!) indo apenas para os que tem! Sistema educacional, de saúde colapsados. Falta de pessoal especializado, falta de material, falta de livros! Os livros aqui são absurdamente caros! Um livro que no Brasil custaria 30 ou 40 reais, aqui custa 50 ou 60 DOLARES!!!! No hospital público se não paga a famosa gasosa não é atendido, ou é muito mal atendido.

A felicidade com um simples gesto, com um simples carinho! Como eles ficam felizes, é tão gratificante! Qualquer coisa, um abraço, um sorriso, um lápis! Motivo para um sorriso feliz, para olhos brilhantes. Aprender a apreciar as pequenas coisas, as coisas que nós, na correria do dia a dia não temos tempo, não temos interesse, não pensamos. Como é valorosa ter uma folha branca para escrever! A chuva que enche os baldes de água! O arroz com feijão diário! A criança que chama o seu nome (como ela sabe o meu nome?) ao ver você passear pela vila, e sorri feliz quando você acena. O céu enorme, uma imensidão sem fim, cheio de estrelas. A inocência que ainda existe nas pessoas, apesar da guerra e do sofrimento. O perdão desapercebido, quando eles ficam bravos comigo (porque eu dei uma bronca, dei uma prova, falei coisas que eles não gostaram, não deixei eles pegarem isso ou aquilo), mas no minuto seguinte já estão sorrindo novamente. A curiosidade sobre como é o mundo lá fora, o Brasil, os Estados Unidos.

Mais que tudo aqui em Angola, passei a pensar mais e a questionar mais sobre o Brasil. As diferenças culturais, as misturas, as desigualdades, a violência, o racismo, a corrupção. Os “por quês” e os “comos” que nos perguntamos diariamente, ou quando temos tempo para pensar sobre isso, mas nunca obtemos uma resposta. O Brasil com suas belezas e com suas disparidades. Um desejo e uma vontade de me integrar mais profundamente no que é o Brasil de verdade, de conhecer as caras, de descobri-lo. É como dizem, que as vezes a vida da voltas para percebermos que o nosso lugar seja talvez no ponto de partida. Mas as experiências adquiridas ao longo das voltas que dei e que darei serão, provavelmente, as necessárias para o meu “brasileiramento”.

Finalizo essa etapa, com trecho de uma música cantada pela Ana Carolina e o Seu Jorge:

“Mas tenho ainda muita coisa pra arrumar, promessas que me fiz e que ainda não cumpri, palavras me aguardam o tempo exato pra falar, coisas minhas, talvez você nem queira ouvir… Vou deixar a rua me levar…”

Foi lindo, foi triste, tenho meu coração conectado a Angola, às pessoas que conheci aqui, aos meus alunos e alunas, aos professores e professoras, a Quena e a sua família e aos demais que fizeram parte de tudo o que vivi. Um especial carinho e admiração ao Iwan que fez parte de tudo isso comigo, me apoiou nas horas de aperto e me empurrou para a frente quando eu precisava ser empurrada. Parto já com saudades, sem saber direito que sentimento é esse, uma mistura de perda e de ganhos imensos.


Queria agradecer as pessoas que de longe me apoiaram no caminho, aos que me acompanharam através do blog, ao meu namorado que já passou por isso e sabe exatamente sobre o que eu estou falando e sentindo, e especialmente a minha querida família, a coisa mais especial e importante que tenho nesse mundo.



E-mail: gabileisbalsa@hotmail.com

Monday, February 05, 2007

 

A vida continua a correr…






Aqui tudo calmo novamente. A equipa 2004 se graduou, felicidade, lágrimas, orgulho, satisfação. Foi uma cerimônia bonita, com homenagens, com teatro, com discursos. Uma etapa cumprida, uma longa estrada pela frente.

A equipa de 2005 foi para o estágio, 1 ano de aprendizados, de experiências. Darão aulas, tentarão se integrar na comunidade, realizar micro-projectos, montar clubes (esportes, alfabetização, música, teatro, mulheres). Desafio!

A equipa de 2006 fica, estuda, trabalha, se prepara. Daqui a duas semanas partem para a investigação, que faz parte do 2º período da formação intitulado “Angola – nosso país”. Irão passar uma semana em áreas rurais entrevistando a comunidade local sobre os meios de vida, de sustento, sobre a cultura, sobre as histórias. Entrevistam o Soba (chefe da comunidade), as pessoas do posto de saúde, da escola, da igreja. Aprendizado!

O Iwan irá embora no sábado, após 1 ano de Angola! Novos começos.

Eu irei 2 semanas após ele, tensão, medo, tristeza, sensação misturada, decisões a serem tomadas. Oportunidade de “pensar estando fora do contexto”, necessária para tentar entender melhor tudo o que se passou e planificar o futuro.

Aqui estou finalizando os trabalhos, despedindo das pessoas, aos poucos, me despedindo do lugar, dos “bichinhos do meu quarto” (aranhas, escorpiões, lagartixas e agora 2 lindos ratinhos!!! tão pequenos que até são fofinhos).

Em 6 dias completo 34! O que me reserva o destino neste novo ano que se iniciará para mim?

Escrito em 30 de Janeiro

 

Informação: sobre educação


Sobre Educação

A Declaração Universal do Direitos do Homem diz: “Todos tem o direito a educação.
A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.”
A educação universal parece estar relativamente avançada, mas a meta tem provado ser difícil de atingir.
Ser alfabetizado melhora a vida da pessoa. A alfabetização pode ser um instrumento para alcançar o desenvolvimento – em nível pessoal, familiar e social, assim como também em níveis macro como nacionais, regionais e mundiais.
A falta de alfabetização está fortemente relacionada com a pobreza, tanto em senso económico quanto com uma profundo senso de privação de capacidades. A alfabetização expande as capacidades individuais, familiares e social para acesso a saúde, educação, política, economia e oportunidades culturais e de serviços.
A Alfabetização de mulheres e meninas é de crucial importância para o problema da desigualdade de género.
Jovens que completaram o ensino primário têm metade das possibilidades de contrair o VIH do que aqueles que não têm acesso a educação. A educação primária universal poderia prevenir 700.000 casos de VIH a cada ano, o que representa por volta de 30% das novas infecções nessa faixa etária.
A Unicef estima que 117 milhões de crianças estão fora do sistema de ensino, do qual 62 milhões são meninas. Fora dos países industrializados apenas 76% de todos os meninos e 72% de todas as meninas frequentam a escola primária na idade oficial para isso. As taxas de frequências são ainda mais baixas se considerarmos a África Subsaariana, onde apenas 60% dos meninos e 57% das meninas estão na escola.

 

Citação


“Revelação. Porque tem horas assim na vida da pessoa: uma palavra só, inocente, muda o tudo no mundo”. Luandino Vieira (escritor angolano)

 

Finalmente notícias!







Bom, aqui em Angola tudo tem corrido bem, falta apenas 1 mês para eu ir embora e já estou ficando meio tensa. Existe uma parte de mim que realmente precisa sair e poder analisar as coisas de outro ângulo, uma necessidade de pôr a cabeça no travesseiro e pensar em tudo o que se passou, sem estar inserida no contexto. Aqui é tudo muito intenso, a energia é grande, não consigo pôr as coisas em ordem na cabeça. Outra parte de mim quer ficar, quer fazer algo mais duradouro, quer continuar fazendo parte do contexto. Mas, no fundo acho que ainda não estaria preparada para esse grande passo, que já seria uma decisão de 2/5 anos. Muita coisa tem se passado na minha cabeça, na minha vida e estou realmente me sentindo cansada, um cansaço de muitas experiências ao mesmo tempo, por isso acho realmente que é hora de partir.

O que mais me dói é saber que provavelmente não encontrarei as pessoas que aqui conheci, que fizeram parte tão intensamente da minha vida, que sempre farão parte da minha vida. Muitas pessoas me pedem para não ir, para ficar, para trabalhar aqui. Fico tão triste e sem reação. Quantas coisas por fazer, por descobrir.

Olho para a natureza, os imbundeiros, o mangue, os flamingos, o pôr-do-sol. A brisa do Ramiro! Bênção! As risadas, as conversas, as irritações, as tristezas, as saudades enormes, os aprendizados, as conquistas, as derrotas. Tudo tão especial, tudo tão intenso.

Aqui na EPF a vida corre. 3 Colectivos convivendo juntos. A equipa 2004, fazendo as defesas, contando as conquistas da época do estagia nas comunidades rurais. A equipa 2005, se preparando para o estágio, finalizando as disciplinas, escrevendo os micro-projectos. A equipa 2006, ainda nos estudos, nos trabalhos práticos, sentindo toda essa vibração da equipa que se graduará em 1 semana e da equipa que irá ao estágio. Movimento, energia, trocas de conhecimento.

A equipa que voltou do estágio e trabalhou como professores estagiários nas áreas rurais, alcançou muitas conquistas. Tanto no que diz respeito ao ato de lecionar quanto dentro da comunidade. Construíram latrinas, construíram salas de aula, igreja, fizeram grupos de alfabetização para adultos, escola de esportes. Tiveram impacto nas comunidades onde trabalharam, deixaram coisas concretas. Alguns pretendem voltar para as mesmas áreas para continuarem os seus trabalhos, as suas conquistas.

A vida corre, a vida continua…

Escrito em 20 de Janeiro de 2007

 

Informação: água e saneamento




Água e Saneamento

Estima-se que a água imprópria para consumo e a falta de saneamento e higiene são os responsáveis pela morte anual de mais de 1,5 milhões de crianças menores de 5 anos causada pela diarreia.
Essa trágica estatística assinala para a necessidade mundial de se fazer valer as metas do Milénio comprometidas com água e saneamento. A meta é se diminuir pela metade, até o ano de 2015, a proporção de pessoas sem acesso a água segura para beber e ao saneamento básico.
Ao todo, mais de 1 bilhão de pessoas não tem acesso a água potável de recursos aperfeiçoados, enquanto 2,6 bilhões não tem saneamento básico.
As facilidades e melhorias no saneamento são necessárias para reduzir as chances das pessoas terem contato direto com as fezes humana, o que causa diversas doenças.
No que diz respeito ao acesso ao progresso, 4 regiões em desenvolvimento – Leste da Ásia e Pacífico, Oriente Médio e Norte da África, Sul da Ásia e América Latina e Caribe – estão no caminho para alcançarem as metas do milénio condizentes a água potável. Mas taxas de progresso referentes a África Subsariana e Central, Europa Ocidental e Estados Independentes mostram que essas regiões não atingirão a meta.
A África Subsariana representa 11% da população mundial, mas quase um terço de toda a população sem acesso a água potável vive lá.
As maiores disparidades em água potável e saneamento básico estão entre as zonas rurais e urbanas. Mundialmente, o acesso a recursos aperfeiçoados de água potável é de 95% nas áreas urbanas e apenas 73% nas áreas rurais. A diferença entre áreas rurais e urbanas no quesito água potável tem sua maior disparidade na África Subsariana, onde 81% das pessoas nas áreas urbanas tem acesso a água potável em comparação a 41% nas áreas rurais.
A diarreia não é a consequência mais comum de padrões pobres de água e saneamento. A pneumonia mata mais de 2 milhões de crianças a cada ano e estudos recentes sugerem que a lavagem de roupa com sabão pode ajudar a reduzir a incidência de pneumonia infantil.
Água não tratada e a falta de saneamento e higiene também estão associados a outras doenças, como vermes, bilharzíase e vermes intestinais.

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