Embaixo do céu de Angola

Um diario, tentando expressar sensacoes, pensamentos. Sentimentos tentando ser traduzidos. Textos, vida, diário, poesia. Um pouco de mim.

Sunday, January 07, 2007

 

Imagens de Fim de Ano



















Saturday, January 06, 2007

 

"Desiste Pulá"

Foi uma experiência única. Apesar de já ter vivenciado um pouco de preconceito e indiferença nos Estados Unidos, por ser latina, por estar arrecadando dinheiro nas ruas.

Dia 31 de Dezembro, resolvi participar da "São Silvestre" em Angola, juntamente com mais 7 pessoas da ONG. Sabia que não estava preparada para correr os 15 quilômetros, mas imaginei que haveria uma certa organização em função da corrida.

A corrida começou e já logo no princípio fiquei para trás, e o que aconteceu é que a organização também logo abriu o tráfico. Motos e bicicletas atrás de mim, ao meu lado, na minha frente. Diminui o ritmo, medo de ser atropelada! E algumas outras pessoas também estavam correndo ao meu lado. Mas continuei, vamos terminar essa corrida!

Mas as coisas começaram a se complicar ainda mais, pois chegou um momento que o trânsito era simplesmente o de sempre. Caos total! Carros, motos, pessoas. E eu, na beirada da rua. Também começou a crescer a hostilidade.
-Desiste pulá (branca)!
- Olha a branca! hahaha
-Branca vai morrer!
- O que essa pulá tá fazendo aqui?

Alguém me puxou o cabelo, não vi quem era. As pessoas apontavam, riam, me olhavam com hostilidade, alguns vinham para cima.

Como é estar do outro lado da moeda? Como é sentir na pele toda a revolta, o medo, que milhares de pessoas sentiram ao longo de séculos de opressão? De imposições de uma raça sobre a outra? Como é de repente, você branco, estar jogando o papel do conquistador que oprimiu e que matou milhares e milhares de antepassados, e que de repente se vê sozinho, entre aqueles que foram os oprimidos?

É uma experiência que todos deveriam passar, e que foi nada, nada mesmo, comparado ao que se sofreu e ao que se sujeitou o povo africano nos séculos de conquistas impostas pelos ditos países desenvolvidos. Não sei, dá uma revolta ainda maior, ver o que aconteceu com esses países, com essas pessoas, que tiveram a sua independência em pleno século 20! Que tiveram o seu povo entregue a mais plena miséria, salvo algumas exceções, enquanto os "pulás" enchiam o bolso de dinheiro!

São iuúmeros sentimentos, difícies de definir, de expressar. Mas, são sentimentos que me mostram que há ainda tanto a se fazer, tanto a se conquistar, tanto a se pensar.

Eu tenho conquistado e aprendido tanto mais do que eu pude ensinar aqui em Angola. Eu tenho conhecido e vivenciado tantas coisas mais do que eu poderia imaginar. Angola e os angolanos têm me presenteado com tantos novos valores, novas experiências e aprendizados. E eu? Qual é o meu papel para com eles? Será que consegui também, como um toma lá, dá cá, ensinar algo a eles? Aos meus alunos? Aos meus colegas? Será que sou a única beneficiada?

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