Um diario, tentando expressar sensacoes, pensamentos. Sentimentos tentando ser traduzidos. Textos, vida, diário, poesia. Um pouco de mim.
Foi uma experiência única. Apesar de já ter vivenciado um pouco de preconceito e indiferença nos Estados Unidos, por ser latina, por estar arrecadando dinheiro nas ruas.
Dia 31 de Dezembro, resolvi participar da "São Silvestre" em Angola, juntamente com mais 7 pessoas da ONG. Sabia que não estava preparada para correr os 15 quilômetros, mas imaginei que haveria uma certa organização em função da corrida.
A corrida começou e já logo no princípio fiquei para trás, e o que aconteceu é que a organização também logo abriu o tráfico. Motos e bicicletas atrás de mim, ao meu lado, na minha frente. Diminui o ritmo, medo de ser atropelada! E algumas outras pessoas também estavam correndo ao meu lado. Mas continuei, vamos terminar essa corrida!
Mas as coisas começaram a se complicar ainda mais, pois chegou um momento que o trânsito era simplesmente o de sempre. Caos total! Carros, motos, pessoas. E eu, na beirada da rua. Também começou a crescer a hostilidade.
-Desiste pulá (branca)!
- Olha a branca! hahaha
-Branca vai morrer!
- O que essa pulá tá fazendo aqui?
Alguém me puxou o cabelo, não vi quem era. As pessoas apontavam, riam, me olhavam com hostilidade, alguns vinham para cima.
Como é estar do outro lado da moeda? Como é sentir na pele toda a revolta, o medo, que milhares de pessoas sentiram ao longo de séculos de opressão? De imposições de uma raça sobre a outra? Como é de repente, você branco, estar jogando o papel do conquistador que oprimiu e que matou milhares e milhares de antepassados, e que de repente se vê sozinho, entre aqueles que foram os oprimidos?
É uma experiência que todos deveriam passar, e que foi nada, nada mesmo, comparado ao que se sofreu e ao que se sujeitou o povo africano nos séculos de conquistas impostas pelos ditos países desenvolvidos. Não sei, dá uma revolta ainda maior, ver o que aconteceu com esses países, com essas pessoas, que tiveram a sua independência em pleno século 20! Que tiveram o seu povo entregue a mais plena miséria, salvo algumas exceções, enquanto os "pulás" enchiam o bolso de dinheiro!
São iuúmeros sentimentos, difícies de definir, de expressar. Mas, são sentimentos que me mostram que há ainda tanto a se fazer, tanto a se conquistar, tanto a se pensar.
Eu tenho conquistado e aprendido tanto mais do que eu pude ensinar aqui em Angola. Eu tenho conhecido e vivenciado tantas coisas mais do que eu poderia imaginar. Angola e os angolanos têm me presenteado com tantos novos valores, novas experiências e aprendizados. E eu? Qual é o meu papel para com eles? Será que consegui também, como um toma lá, dá cá, ensinar algo a eles? Aos meus alunos? Aos meus colegas? Será que sou a única beneficiada?
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