Embaixo do céu de Angola

Um diario, tentando expressar sensacoes, pensamentos. Sentimentos tentando ser traduzidos. Textos, vida, diário, poesia. Um pouco de mim.

Thursday, December 07, 2006

 

Um jantar especial

No dia 2 de Dezembro, eu e o Iwan fomos convidados a jantar na casa da Quena, a mulher que mora na vila do Ramiro e que nos vende pilinhas.

Foi muito boa a experiência, tanto culinária quando do ponto de vista de se estar inserido dentro do contexto de uma família angolana típica.

A família veio de Bié, região do Central de Angola, fugindo da guerra. Se instalaram em Viana, nos arredores de Luanda e por causa do trabalho do marido se mudaram para a Vila do Ramiro.

Eles são um casal com 5 filhos, o mais velho 14 anos e o mais novinho 2 aninhos. A Quena tem 33 anos e o Francisco, o marido, tem 36 anos. Ela cuida da casa, dos filhos, faz doces e vende coisinhas (farinha de milho, de mandioca, bebida, leite em pó). Ele é professor, mas só está trabalhando uma vez por semana. “Mas, o que você faz nos outros dias?”, pergunto. Ele responde: “Durmo”. Agora ele está de férias.

Então, basicamente é isso, a Quena trabalha 7 dias por semana, não para um minuto!!! E o marido sentado no sofá, pedindo: “Quena, põe vela no banheiro”, “Quena, essa cerveja está quente”, “Quena, quando é que a comida fica pronto”. Incrível!!!

Ela com a criança amarrada no lombo, cozinhando, correndo de um lado a outro, dando comida para o outro filho, cozinhando, lavando, e o maridão no estilo “Eta, vida boa meu Deus!”

A comida estava um arraso! Comemos quissaca (refogado de folha de mandioca), caxopa (milho branco com feijão – leva carne também mas ela fez estilo vegetariano por minha causa! Fofa!), fungi de bombo com fungi de milho (é uma polenta feita com farinha de mandioca e com farinha de milho). Tomamos gasosas (refrigerante) e cervejinhas.

Os filhotes muito fofos, só estavam o Vinguela e o Luquinha, de 4 e 2 aninhos.

Bom, no final, como era tarde, dormimos lá. A Quena muito feliz com a nossa presença, não deixou que ajudássemos em nada!!! Nem com um dinheiro para ajudar nas despesas. Levei algumas roupas que eu tinha aqui para doar e material de pintura para as crianças.

O único episódio da noite que foi um pouco constrangedor e irritante para mim, foi a Sandra, uma amiga de Quena, que chegou para uma visita e conversa vai, conversa vem, falou: “Quando você for embora de Angola, você tem que deixar todas as suas roupas aqui, só vai com a roupa do corpo.” Fiquei meio sem jeito, meio sem graça, dei uma risada meio amarela e deixei passar. Mas, ela ainda repetiu mais umas duas vezes ao longo da sua estadia na casa da Quena. Na última vez eu perguntei: “E daí? Eu fico sem roupa?” Ela disse: “Ah! Lá você arranja mais”.

Realmente me incomodou. Mas, é comum aqui. Tudo pedem, tudo querem. Sem cerimonias, sem vergonhas. Talvez eu esteja errada, talvez eu devesse dar tudo o que tenho. Não sei, às vezes é difícil. Mas acho que saber falar “não” é importante, até porque muitas vezes eles nem sabem o que estão pedindo. É só pelo fato de estar nas minhas mãos.
Mas a Quena! Uma mulher maravilhosa, um coração de ouro, filhos lindos. Ela está tentando construir uma vendinha para comercializar os produtos. Trabalhadora, lutadora. E nos chama de “meus filhos”.

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