Embaixo do céu de Angola

Um diario, tentando expressar sensacoes, pensamentos. Sentimentos tentando ser traduzidos. Textos, vida, diário, poesia. Um pouco de mim.

Monday, December 18, 2006

 

E o tempo passa...

4 Meses já se passaram! Voando… Muitas coisas aconteceram com a minha vida nesses últimos tempos, muitos novos pensamentos, muitos novos aprendizados, novas alegrias, novas tristezas. Muitas saudades também.

Estou na reta final. Faltam apenas 2 meses para eu ir embora de Angola. E, mesmo assim, tanta coisa precisa ser feita, tanta! Educação, saúde, saneamento básico, água potável, democracia. Tantas coisas ainda para serem alcançadas. Quando haverá uma mudança significativa na vida dessas pessoas? Dessas crianças, desses jovens?

Tivemos a visita da Diretora da UNICEF aqui em Angola. Ela é da Nova Zelândia. A ADPP, minha organização, é uma das maiores parceiras da UNICEF aqui em Angola. Ela enfatizou muito a importância da educação para a melhora das condições de saúde da população. Angola é o país com maior mortalidade infantil (nº de crianças que morrem antes de completarem 5 anos) do mundo! Em Angola o número é mais ou menos 185 crianças para cada 1000 nascidos, ou seja, de cada 1000 crianças que nascem, 185 morrem antes dos 5 anos de idade. Por que? Por causa de problemas facilmente tratáveis, como diarreia, má nutrição, fome. Mas, os níveis de educação estão também diretamente relacionados a esse fator. Angola tem um índice de desempenho escolar entre os mais baixos do mundo.

Segundo Aline Pereira (Doutoranda em Economia dos Recursos Humanos - ISCTE –Lisboa), “a baixa escolaridade impacta directamente na qualidade de vida da angolana e da sua família. Quase todas as mulheres que receberam educação secundária e superior ouviram falar de HIV/SIDA (96%), enquanto esta percentagem é menos da metade nas mulheres que não receberam nenhum tipo de educação (45%).
A prevalência da contracepção em Angola é de 6%, estando abaixo da média da África sub-saariana, que por sua vez é a mais baixa do mundo. As mulheres que frequentaram o ensino secundário têm probabilidade dez vezes maior de usarem contraceptivos do que as mulheres que não têm qualquer instrução. Esta tendência mantém para as mulheres casadas e mulheres em união de facto. Nessa categoria, as mulheres com um nível mais elevado de educação têm uma probabilidade 18 vezes maior de usarem métodos de contracepção modernos do que as mulheres que nunca frequentaram o ensino. Esta tendência revela a relação entre os níveis mais elevados de educação e uma taxa de fecundidade reduzida. O deficit educacional gera assim um ciclo vicioso, o elevado índice de gravidez na adolescência (21% para as de 16 anos e 61% para as de 19 anos) e de fecundidade (em média, 7 crianças nascidas vivas por mulher; aos 18 anos um terço das mulheres angolanas já eram mães e aos 20 este percentual sobe para 68%) associado à falta de programas de prevenção afasta as mulheres da escola. A baixa escolaridade contribui para o aumento da taxa de fecundidade.
A saúde das crianças também está relacionada ao nível de escolaridade da mãe: crianças cujas mães possuem educação secundária ou superior são menos vulneráveis do que as crianças cujas mães tiveram acesso a educação; uma criança cuja mãe é iletrada tem uma probabilidade 60% maior de morrer antes de atingir cinco anos de idade.”

Tem sido importante para mim estar participando ativamente na parte educacional da ONG aqui em Angola. A cada dia descubro e vejo como é realmente importante, juntamente com saúde, a educação. São duas áreas estritamente ligadas uma com a outra. Também começou a brotar em mim, a partir desta experiência, a necessidade de saber. Saber mais sobre o mundo, sobre política, economia, tendências mundiais. Tenho lido muito, pesquisado (na medido da possível) muito, e descubro novos interesses a cada novo dia. Mas, o que mais me acrescentou, interessou e provavelmente fará parte do meu futuro, é a luta pelos direitos das mulheres. Ter dado as aulas de “Porta-Voz da Mulher” para o Colectivo 05, começou a delinear e a desembaçar a minha ansiedade na pergunta: “O que fazer depois?”. A pergunta ainda continua sem resposta, mas já começa a tomar novas dimensões. Ainda tenho 4 meses pela frente – 2 meses em Angola, 1 mês na África do Sul para relatórios e organização do que será o meu ultimo mês, em Moçambique. Estou realmente ansiosa para Moçambique, pois irei trabalhar em um projeto diferente chamado “Ajuda as crianças”. Esse projeto é bem completo pois não é direcionado apenas para os pequeninos, mas para as suas famílias e para tudo ao seu redor. Trabalha com meio ambiente, com educação, com projetos de geração de renda, com saúde. Estou realmente empolgada, e com um sentimento de que me apaixonarei perdidamente pelo projeto, não sei, tenho tido essa sensação. Vocês terão notícias.

Bom, daqui a pouco Natal e Ano Novo. A todos muita paz e muita saúde e muita família por perto! Quantas saudades da família! Minha família passou a ter uma importância ainda maior do que antes e a cada dia que passa percebo o valor que eles tem para mim. Mãe, irmãs, pai, sobrinhos, sobrinha, tios, tias, primos, primas e cunhados, amo todos vocês. Um beijo a todos – familiares, amigos, amigas, leitoras e leitores – e até o Ano que vem.

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